sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Carnaval

Carnavais de hoje e de antanho
Aproxima–se mais uma época carnavalesca em que o rei burlesco sai á rua para gáudio do Zé Povinho , e os demais comparsas se riem das figuras tristes de um povo em crise que ainda faz de conta que tem alegrias , enquanto os senhores que nos mandam , proclamam o apertar do cinto.
Ano de graça de 2011 ...... !!! .....
Ano de desgraça de 1951 , encontrava–me eu gozando de umas ferias merecidas em Vendas Novas servindo o nosso exercito , fazendo o tirocinio de uma das melhores aprendisagens da minha vida ....
Aprender a ser Homem .
Dizia–se nessa altura que quem não ia servir o exercito ou a marinha não era Homem nem era nada !!! , e deste modo lá me encontrava no dia de Carnaval na Escola Pratica de Artilharia fazendo parte de alguns milhares de homens – certas vezes mais de dois mil que nos preparávamos para uma futura guerra sem Honras,Glorias e nem proventos .
Mas alguém mandava e mandava bem .
Eu nesse dia podia ausentar–me do quartel e pensei que apesar de tudo que me confrangia também me predispus a brincar ao Carnaval .
Como tinha chovido , tinha ouvido o toque do clarim dizer –nos que se quizessemos poderíamos sair de capote vestido , enverguei o meu capote confortável e de bom corte e aproximei–me da despensa aonde armazenava –mos os comestíveis dos quais fazíamos o comer para mais de duzentos cadetes que faziam a sua formação de futuros oficiais do exercito português
Eu tinha carta branca de entrada naquele grande armazém que dava de comer como já disse a alguns milhares de pessoas , pois eu fazia serviço na cantina e refeitório da área Leste do aquartelamento aonde os futuros oficiais estavam alojados .
Como estava de capote vestido aproximei–me de uma área em que estavam armazenados os diversos enchidos de carne e sorrateiramente cortei o fio de um paio – enchido de carne de porco fumada – e sem ninguém dar por isso sai pela porta de armas e quase pronto para começar a gozar o meu Carnaval procurei uma pequena cana a qual com um fio amarrei o paio na sua ponta .
Enquanto estava fazendo os arranjos para a brincadeira que tinha pensado . as lágrimas caiam pela minha cara abaixo o que levou um dos meus camaradas a perguntar o que se passava comigo pois as lágrimas caiam quase copiosamente .
Respondi–lhe que era por causa do vento que me estava a bater na cara
Tu estas a gozar comigo pois não está vento nenhum !
E comecei a minha brincadeira que consistia em me aproximar de uma rapariga que comigo cruzava e dizia " ó menina quer a minha chouriça ?
Ela de uma maneira geral virava a cara para o lado e eu nessa ocasião a mandava–lhe o paio .
Ela quando via o paio tentava o apanhar mas era tarde de mais pois o paio já estava debaixo do meu capote .
Fiz diversas vezes ate que me aproximei da janela de uma menina que vendia os bilhetes no cinema local . Ela estava com as mãos cruzadas no peitoril da janela .
Ela certamente já tinha desconfiado que algo de estranho se passava pois via as raparigas tentarem apanhar qualquer coisa e assim que eu lhe perguntei se ela queria a minha chouriça com as duas mãos agarrou no paio e já não o deixou da mão.
Eu dizia–lhe " ó menina largue–me a minha chouriça por favor ....
mas a chourica estava tão bem amarrada que ela não saia da corda . estivemos por alguns minutos naquela luta quando ela a certa altura começou a dizer–me " você esta me a tratar mal , a ofender e por detrás de mim ouvi uma voz que me disse " Tu estas detido "
Virei–me e dou de caras com o meu Furriel Juce e uma praça que andavam no seu giro de policia militar .
Perfilei–me e bati lhe a pala , giro continência militar.
Disse –me que fosse imediatamente para o quartel e no dia seguinte me apresentasse a ele
Assim o fiz e serviu–me com oito dias de castigo sem poder sair á rua e registado na caderneta militar .
Não vou esperar que um dia destes me encontrem na rua e me perguntem ,o porquê de estar a chorar quase copiosamente ,vou sim senhor ,dizer–vos já gora .
Assentei praça no ano de 1950 , ano de muita crise pois antes de ser alistado eu e os pescadores de Peniche embora indo ao mar esporadicamente ,estivemos seis meses sem fazer contas.
Era a fome que não desandava com a falta de peixe e mau tempo .
Já depois de estar na tropa cada carta que recebia era sempre a mesma conversa , estavam todos " bem " mas não havia ganhos e durante 18 meses que estive no serviço militar poucas vezes houve peixe para se poder fazer contas atrasadas , apanhavam peixe que era para dividirem ainda no mar pelas outras traineiras e eu ali a brincar ao Carnaval com um paio grande ,talvez mais de um quilo e o meu filho a minha mulher e as nossas Famílias de Peniche a passarem fome continuada mente ....
Quem me conhece bem sabe que sempre fui e sou um Homem de Coragem , Forte nas arrelias e nos perigos da Vida mas também sou um frágil ser Humano que também chora sem ter vergonha de o dizer .
Já falamos do antanho , agora se me permitem vou falar do Carnaval destas eras novas em que o Carnaval tem servido para que sazonalmente as pessoas ainda consigam brincar ao Carnaval esquecendo ate barrigas vazias e mais calotes que se tem acumulado ao longo dos anos com roupas lindas e vistosas que fazem do Carnaval de Peniche e num futuro breve , dos seus arredores , ponto de visita e diversão a milhares de forasteiros.
E Vivó Carnaval de Peniche
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
P.S.
Já por aqui foi dito que uma congregação religiosa está ,ou esteve a fazer distribuição de sopa aos pobres mas parece que não tem sido muito concorrida ,e ainda bem , pois isso quer dizer que a fome envergonhada ainda não saiu á rua .
Salvem o porto de pescas lúdicas e turísticas de Peniche , Reparem a ETAR livrem–nos das areias contaminadas do Fosso das Muralhas , Dêem um coval digno ao Hospital de Peniche no cemitério de Alcobaça
Salvem o Baleal , Salvem Peniche e sereis Salvos

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