sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O Saber da Sapiencia




                                     O Saber da Sapiência

       Pensemos que estamos a proclamar a Verdade  Obscura  numa aula de Sapiência , iluminada por uma aurora boreal nos seus diversos formatos :
Pontos luminosos, faixas no sentido horizontal ou circulares numa região da Filandia  num mês de Fevereiro , aparecem  porem  sempre alinhados ao campo magnético Terrestre .
     As suas cores podem variar muito ,como por exemplo : laranja , azul , amarela ,verde e vermelho  e aparecem em varias cores ao mesmo tempo - reparem que aleatoriamente mencionei juntas ,as cores da ainda bandeira do meu querido Portugal - .
       Tenho que admitir que partindo de uma grandiosa lista de individualidades  que actualmente pululam o solo português  todos empenhados em contribuírem para o bem estar da Nação portuguesa  , por motivos de falta de espaço  interplanetario somente escolhi quatro para em representação dos restantes tecer as minhas homenagens e  elegerem-nos como as personalidades mais importantes do Ano  2012 .
       Em primeiro lugar , o distintissimo Artur Baptista da Silva em segundo lugar o famosissimo Carlos Sa' em terceiro lugar Paulo Jorge Marques Inácio , em quarto  e ultimo lugar Fernando Costa .
       Como meu costume vou tentar explicar o porque da minha tão sublime escolha .
Artur Baptista da Silva :
Um português ilustríssimo cujo alto gabarito económico conseguiu por em xeque a famosa classe de comentadores económicos portugueses  e em especial ,  Nicolau Santos  um dos mais qualificados económicos portugueses que o diga .
        Porque ?  "  porque o Sr. Silva mostrou que conhece os pontos  fracos da nossa praça e de quem por la se passeia e mostra ,  e que tem dotes psicológicos adequados  a pregar partidinhas  aos sérios  portugueses de fundacoes e Expresso da 1/2 noite .
Afinal ninguém ficou com a conta bancaria desfalcada ou casa arrombada , ninguém foi caluniado , foi apenas humilhante e embaraçoso  para quem correu a convida-lo atraído pelo brilho dum currículo habilmente inventado "  Patrício Branco ,  blogue  " duas ou três coisas " com a devida vénia .
 Premio   atribuído ao vencedor  :  uma lata com quatro  sardinhas certificadas com selo de origem de Peniche Portugal.
Ao Sr. Carlos Sa' foi atribuído o segundo prémio por ter aceite  ser o executor da maior fraude dos  Governos Portugueses  nas ultimas décadas  aos oestinos de Portugal , como  administrador do Centro Hospitalar Oeste Norte em que dirigiu  dentro de uma qualquer gaveta numas águas furtadas  na cidade das Caldas da Rainha  esse fantasma hospital que nunca foi erigido ou teve numero de policia mas que saia  do erário publico todos os meses muitos milhares de euros  como seus honorários mensais .Para cumulo da sua honorabilidades  e honestidade perante o Governo esta' novamente esperando pelo decreto lei que o nomeara' administrador de outro fantamasgorico hospital no oeste norte de Portugal  que já tem por nome CHO , provando assim os seus dotes de administrador de hospitais fantasmas .
Prémio atribuído  :  Uma lata com três  sardinhas certificada com o selo de origem de Peniche Portugal
         Em terceiro lugar , atribuído ao Sr. Paulo Jorge Marques Inácio  Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça  pelas suas honestas contribuicoes ao desmantelamento do Hospital  São Pedro Gonçalves Telmo de Peniche , um dos melhores Hospitais Concelhios do Pais desde a sua inauguração ha'  28 anos de onde foram retirados maquinas e equipamentos para o  velho Hospital da Misericordia -mais de 100 anos ? - de Alcobaça. . Depois de o Hospital começar a trabalhar deixou a área das Caldas da da Rainha e mudou o hospital para a área de Leiria  , com uma grande jogada de oportunidade infantil ,parece-me a mim !!!.
 Este sr. teve como prémio uma lata de conserva  com duas sardinhas fabricadas em Peniche  mas oriundas  de Marrocos .
        Finalmente o Sr. Dr. Fernando Costa  Presidente  da Câmara Municipal das Caldas da Rainha que foi contra o pagamento    dos seus fregueses   nas portagens para poderem ir trabalhar ou servirem -se nos serviços do  Novo CHON a construir em Alfeizarao  que já tinha área comprada para a sua construcao , porque so' queria que o novo hospital fosse construído de raiz na área da cidade das Caldas da Rainha fez uma terrível decisão  em que agora estamos a pagar, com hospitais rolantes  a não servirem a população do Oeste Norte de Portugal, algumas centenas de milhares de fregueses  que possivelmente já tinham o novo CHON a trabalhar em Alfeizarao
        Este Velho Lobo Politico como eu o descrevia então carinhosamente nos jornais locais , esta' tão debilitado que agora so' vai concorrer a' Presidência da Camara de Leiria se as altas entidades politicas do Partido Social Democrata o convidarem pessoalmente  !!!.
         Com este seu trabalho tão deficiente . no meu ponto de vista foi o ultimo clasificado  , depois de alguns meses de profunda meditação .
Como ultimo classificado  tera' direito a uma lata de conserva fabricada em Peniche somente com uma esquilha apanhada em Cabo Verde    , cheia com oleo de figado de bacalhau para ela se poder movimentar dentro da lata com o a' vontade que ela merece  .
          A entrega dos premios  sera' em Peniche em data a combinar , Sera' convidada a Fanfarra dos Bombeiros , Peniche não tem banda filarmonica ,  e estara presente nesta entrega a Pessoa mais COOL de Peniche .
O mais respeitosamente possivel desejo a Todos , fregueses ou não ,um respeitoso desejo de Feliz Ano Novo .
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
P.S. Como já estou um pouco tarolo os meus mais de 83 anos assim o permitem , tive que ter recortes de Jornais  e o meu Amigo  Blogue  "   
"  duas ou três coisas " para poder sair servico que Vossas Excias  que me leem possam compreender .
PARA QUE CONSTE SERAO ENVIADAS COPIAS DESTE MEU ESCRITO A' IMPRENSA LOCAL VIA EMAIL .

sábado, 22 de dezembro de 2012

Natal 1950 - 2012

                                                        Natal    1950 --- 2012

              Não e' masochismo meu estar a falar sempre em Misérias  mas sim tentar lembrar  e comparar os tempos antigos , com os tempos modernos , dos nossos dias em que a abundância grassa para alguns  e a quase mendicidade impera nos mais desprotegidos da sorte que nestes dias também não conseguem infelizmente granjear alimentos suficientes nesta data Festiva de Natal.
Vamos supor que estes nomes são fictícios ou reais conforme vos der a paciência para me lerem ate ao fim, não vou ser longo , como de costumo, os meus contos de Natal lêem-se em poucos minutos ......

                Manuel tinha sido chamado para servir o exercito  pois  todos os anos , os jovens masculinos tinham o Dever de Honrar a Pátria   com o serviço militar obrigatório  pelo menos durante dezoito meses de serviço com brilho e dedicação.
                  Os tempos não estavam bons em Peniche monetariamente durante mais de seis meses ninguém tinha conseguido apanhar peixe que desse para ser vendido na lota, pois se alguma traineira conseguia apanhar meia dúzia de cabazes eram logo distribuídos no mar pelas restantes embarca coes   que eram logo denunciadas pelas gaivotas que mal forca tinham já para voar .
O vendaval pelo seu lado batia constantemente a costa  e mesmo  correndo a costa , nas praias ou nos sítios pedregosos raramente se podia encontrar algum peixe que com a fúria do mar morria e dava   a' costa , era a miséria da fome negra que os pescadores de Portugal ciclicamente sofriam todos os anos
              Se por acaso alguém pudesse encontrar algum safiosito ,uma peixe espada ou um peixe de outra espécie qualquer  era a alegria em mostrar o troféu e se conseguisse repartilhar com algum familiar ou visinho a boa nova era tema de conversa para alguns dias .
             As poucas  cartas  que a Genovesa conseguia enviar para o Manuel - não era fácil ter dinheiro para comprar o selo - eram muito desanimadoras   e a renda de bilrros de Peniche que durante o mês  conseguia fazer de manha a' noite nunca dava para terem um almoço mais confortável .
 As Mulheres das fabricas  conserveiras só trabalhavam dois três dias por semana  pois os seus patrões  ainda tentavam mitigar a falta da sardinha e a's vezes generosamente mandavam caiar e fazer limpezas quase desnecessárias  para assim darem alguns escudos  ao fim da semana
          O  Natal aproxima-se e a situação financeira agravava- se cada vez mais
Manuel servindo na Escola Pratica de Artilharia  estava castigado ,não podia sair do Quartel  pois tinha sido apanhado a ler um livro pelo instrutor que dava as li coes no curso de cabos e esperava desesperadamente para ser enviado  para Elvas para pelo menos durante três anos  acarretar agua com um barril  que não aguentava a agua  e partindo de um morro mais alto quando chegava ca' abaixo  ja' não trazia agua nenhuma .   
        Era já esta a sentença lida pelo  Primeiro Sargento que lhe dizia que quando mais depressa fosse cumprir a pena mais depressa regressaria a casa depois do ccastigo cumprido  .       
  Em todas as refeicoes que lhe eram servidas Manuel  que era forte como um raio , não conseguia conter umas lágrimas  que furtivamente  deslizavam pela sua face, pensando que enquanto ali comia  uma refeição que ate' não era muito ma' para quem era obrigado a gostar , sabia  que a'quela hora sua Mulher e seu pequeno filho certamente pouco tinham , ou nada para comer .
          Na véspera de Natal Manuel não quis ir para a formação da parada aonde todos se formavam antes de  entrarem  no refeitório , alegou que estava doente  e como castigo teve que ir dar baixa na enfermaria  e la esteve ate aos primeiros dias do ano novo, a comer caldos de galinha .
            Foi com grande alegria que passada uma semana lhe chegou a' mão uma tão esperada carta , cuja foi lida com  ânsia terrível pois desejava sempre que noticias de pesca abundante  pudessem  alegrar  todos .
             As pescarias continuavam muito ma's , dizia a carta mas foi com um pouco  de alegria  que leu   :
Manecas  passamos a  véspera de Natal na nossa casa . Estava uma noite fria e ventosa  em que não se podia sair de casa e pensei que que não seria bom ir com o menino para a casa dos meus  pais  e fui para casa da nossa vizinha Matilia para assim fazermos a renda a' luz do mesmo candeeiro um acordo que fizemos para assim pouparmos algum petróleo  e como o José estava a pescar com o barco do tio no Algarve a Matilia  estava com fe' que o seu Homem pelo menos no dia de Natal  pudesse chegar a casa  pois  todos queriam vir para Peniche. Eram já mais de onze horas da noite ouvimos um grande estrondo na porta da casa e dai a poucos segundos  a porta escancarou- se  e apareceu o José com uma grande peixe espada quase do tamanho dele , foi uma grande alegria .
            O Jose logo amanhou a peixe espada e eu ainda fui a casa rebuscar um fio de azeite para juntar ao resto da Mabilia que ainda da garrafa pingou . Posta logo na frigideira com uns salpicos também de sal, comemos com pão que o José tinha comprado .
A peixe espadaa era tao gorda que quando se acabou de fritar a frigideira tinha mais molho do óleo que a peixe espada deitou e logo apoveitamos para eles no outro dia ja' terem  a gordura para fazerem um refogado de arroz  que ainda existia em casa .
          Foi uma farturinha na noite de Natal !!! ......
Manuel já não consegui ler o resto da carta e com lágrimas copiosas banhando o seu rosto ,olhando para o céu disse balbuciando :
 Obrigado meu Deus pelo milagre que fizeste !!!

 Um Santo  Natal o mais possível para todo Mundo

Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada            Natal de 2012



 

domingo, 30 de setembro de 2012

as Folhas do meu Destino

                                                                                                                                     


                                                                    As Folhas do meu Destino


                                                             Regresso a Peniche

         Depois de quase três semanas de estadia em Lisboa  estou de volta a Peniche
 Conheci a vida de candongueiro que nada me seduziu  depois de fazer diversos contactos acerca de possibilidades de trabalho em Lisboa os quais estavam  limitados pela minha idade  só me apareceu trabalho de moço de fretes , carvoeiro  e tavernas , mercearias para levar encomendas aos fregueses com cabazes ás costas até  ao quinto andar ,mal comidos dormidos e mal pagos  resolvi regressar á minha já amada Peniche .
        Na Papelaria Fernandes aonde trabalhavam  já dois” paquetes “ - jovens rapazes que faziam diariamente  as muitas entregas de livros e produtos  de livraria e de  escritório -na época a mais importante do País davam-me lugar se qualquer rapaz saísse a qualquer altura .
       Na candonga já tinha sido seguido pela  policia e se não fora uma jovem criada deixar. me sair pela porta da frente teria que nessa noite dormir na Mitra e o pior ainda seria desaparecer todo o dinheiro que tinha em meu poder o que para mim seria inacreditável mas já tinham havido muito casos desses abusos que as pessoas não se queixavam  com medo a represálias . Depois de agradecer a minha estadia aos meus Amigos Cristina e Pina que não me levaram nada pela minha estadia e que até queriam que eu ficasse por mais tempo embora eu oferecesse  alguns dos comestíveis que eles tinham mais dificuldades de encontrar na cantina da Imprensa Nacional , eram favores que eu não podia pagar .na ultima madrugada lá fiz bicha em alguns postos de abastecimentos mas como pensei ir a pé ate Torres Vedras e ai acabar de vender mais algumas mercadorias , não vendi todas para a  chegar a casa com algumas  e ai apanhei a ultima camioneta para Peniche. 
       Deixei a “ nassa “ que meu irmão me tinha deixado em Lisboa que vós não calculais  o jeito que me fez ao longo da minha estadia em Lisboa , com a minha bagagem em cima da mesa da casa de fora ,abri a porta com cuidado que como de costume estava na aldraba e com a claridade das estrelas verifiquei que a minha cama estava feita , composta como  esperando por mim! 
       Sorrateiramente deitei-me, o mais silenciosamente possível e certamente alguns minutos depois já estaria dormindo junto dos Anjos que me  tinham acompanhado naquela tão longa Viagem
      Subitamente acordei aos gritos da minha irmã Beatriz que chorando dizia  :
      Mãe , o Manecas está aqui na  cama !!!! ,  
 Chorando todos  me queriam abraçar , enquanto eu suave e silenciosamente acompanhava  com  lágrimas  aquele hino Celestial ….
Agradecido meu Deus ! .
                                         

    Ninguém me recriminou pessoalmente pela  atitude , desastrada e desumana   situação  que tinha feito passar toda a minha família  e eu nunca o esqueci ou esquecerei .
 No outro dia logo perguntei á minha irmã Beatriz ,como tinham passado na minha ausência e ela  dentro coisas de somenos importância  disse-me  :
-Olha ficamos aflitos  pois a nossa irmã Jesus foi presa   durante três  dias e duas noites……. 

         Naquela época existiam , muitas e muitas fazendas cultivadas na nossa Peniche  umas com muitas arvores de frutos , vinhas   - o vinho branco de Peniche era um dos vinhos famosos de Portugal ,só que era só para nosso consumo e poucos portugueses sabiam verdadeiramente – outras com as mais diversa searas  que ocupavam  - pouca  mão de obra de pescadores -  mas  bastantes agricultores e gente do campo.
      De uma maneira geral as propriedades eram divididas por altos muros de pedra que se alongavam ao longo dos diversos caminhos que cruzavam  Peniche em todas as direcções possíveis e imaginarias .
Para alem desses muros altos haviam outros proprietários  que já tinham muros mais baixos para fazerem os seus limites de posse das suas propriedades  ou simples divisórias de caneiras ,  simples caniço, ou pouco mais .
Nessa altura eram identificados os proprietários de maiores posses consoante a altura de muros da pedra que circundavam as sua propriedades ou como estes eram feitos
      Por esses caminhos circundantes muitas pessoas viam-se obrigadas a passar junto
 das ramadas que saíam da periferia dos muros  e ficavam á mão de quem passava e assim era colhida alguma fruta que teimava em se fazer cobiçar
     Nessa hora de almoço que minha irmã Jesus ia levar ao nosso Pai ,era obrigada  a passar por uma área em que diversas arvores deixavam cair os seus ramos e respectivos frutos para o caminho e pensou quando voltasse para trás apanhar alguns frutos  dessas ramadas .
 E se o pensou melhor o fez….
 Para azar dela o proprietário  e o caseiro parece que já estavam esperando quando ela regressasse e  a ramagem mexesse do lado de fora para gritarem  e irem fazer queixa dela ao Sr. Administrador e ela pelo crime de roubar fruta que estava exposta no caminho  apanhou três dias e duas noites de prisão  !!!.
A minha irmã Jesus tinha 16 anos de idade 
                                           
                      Pensei logo que era uma injustiça para uma pessoa que apanha fruta num caminho publico que vai a passar , ir para a cadeia !!!.
 No dia seguinte em conversa com os meus Amigos  contei-lhes a historia  .
Uns sabiam – na , outros não  e calmamente disse-lhes  :
Amanha eu vou rapar a fruta toda que estiver no caminho desse senhor , amigo do Sr. Administrador e depois vou á Câmara dizer a ele que tirei a fruta toda que estava no caminho  e que quero ir preso como a minha irmã foi para a cadeia de Peniche  por apanhar fruta naquele caminho .
Mas gostava de ir com companhia para lá estar na brincadeira todos os dias e todas as noites ….
O Toino   Risota  perguntou-me  : tu és capaz de fazeres isso Manel ? Se tu fores também eu vou….
 E numa risota pegada outros mais se fizeram voluntários em demasia .
Logo no outro dia partimos para a Câmara Municipal de Peniche eu e mais 5 companheiros que ficaram á porta da Câmara enquanto eu subi para falar com o Sr. Administrador .
Na câmara disseram-me que o Sr. Administrador tinha ido para a Fortaleza  e eu saindo logo fui a Fortaleza para falar com ele e disse aos meus companheiros  que não arredassem pé dali que eu já vinha . Chegado á fortaleza a sentinela guarda disse-me que ele já tinha saído e provavelmente estava na Câmara
             Eu não o conhecia e possivelmente  trocamos os caminhos pois eu não me lembrava de o ter visto no caminho.
           Pedi para falar com o S. Administrador e fui logo atendido
 Sr. Administrado eu e mais cinco rapazes passamos por um caminho que tinha as ramadas caídas com fruta e apanhamos toda, agora queremos ir para a cadeia como a minha irmã foi.. Estava a falar e ele estava muito admirado do que eu lhe estava a dizer Fiz uma pequena pausa e ele disse-me :
Vai –te embora daqui  já , meu comunista ….
 E foi esta a primeira vez que ouvi chamarem – me COMUNISTA
Com os melhores cumprimentos  do
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada       fielamigodepeniche.blogspot.com
30 de Setembro de 2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

As Folhas do meu Destino

                                                                                                                              
                                                                              
Capitulo 4

                                                           As Folhas do meu Destino

               Cheguei as portas de Lisboa sem mais nenhumas novidades,  a tirada não tinha sido muito longa e quando já me encontrava próximo da Penitenciaria de Lisboa  no Alto do Parque Eduardo VII encontrei-me de frente a frente com um Policia de Segurança Publica que olhando-me um pouco admirado, talvez por ir descalço mas eu não me perturbei e chegando-me ao pé dele tirei um pequeno papel do bolso com o nome e a direcção  das pessoas amigas para onde me ia dirigir e disse-lhe :
 -Por favor o Sr. podia-me dar uma indicação por onde terei que ir para chegar a  casa dos  meus  familiares e entreguei-lhe um pequeno papel muito legível aonde eu  algumas horas antes   tinha escrito  o nome e a morada em caso de ser  abordado pela policia  e ele sem levantar algum problema , deu-me a indicação que de ante mão já eu a sabia  . 
 O meu Amigo Desconhecido já me tinha dito que se a policia me dissesse alguma coisa por andar descalço , que eu dissesse que não sabia que não se podia andar descalço em Lisboa mas amanha já vou   comprar umas botas ou sapatos e mostrava logo o dinheiro.
 Não foi preciso mentir  e o Sr. Policias deixou-me ir embora sem mais delongas .
       A surpresa foi grande para a Sra. Dona Cristina quando me abriu a porta e ver-me descalço, já quase de noite aparecer á sua porta
        Mandou-me entrar e disse-me logo, vai para a cozinha que eu vou fazer alguma coisa para comeres, pois tu com certeza ainda não jantastes.
Entretanto apareceu-me o Sr. Pina  que ao ver-me  disse logo :
- O que se passa contigo?
- Sou eu que pensei vir para Lisboa para tentar arranjar trabalho pois em Peniche não arranjo nada …..
- Vai comer, dormir e amanha quando regressarmos do trabalho com mais vagar nós conversamos .
- Sr. Pina eu amanha muito cedo queria ir á Ribeira Nova  , pois eu ouvi dizer lá em Peniche que algumas traineiras andavam a pescar e a vender o peixe em Lisboa  e pode ser que traga algum peixe para nós comermos .
- Se quiseres ir não há mal nenhum, ainda te lembras do caminho para lá chegares ?
 Lembro-me sim senhor e pode ser que calhe bem.
          De madrugada, depois de comer uma sandes de queijo pus-me a caminho e logo em pouco tempo passei por uma longa fila de pessoas que em bicha pareciam que esperavam por alguma coisa .
         Quando cheguei junto  delas a minha curiosidades foi mais forte do que eu e indaguei a um rapaz  :   O que estão a aqui a fazer a esta hora que ainda nem sequer é dia ?
- Estamos esperando que o armazém abra as portas para nós comprarmos aquilo que eles tiverem para vender, e depois vamos de porta em porta para ver se alguém quer comprar. aquilo que compramos aqui e noutros lados para depois vendermos.
 Eu sabia que em Peniche também tínhamos que ir para a bicha mas tínhamos umas senhas que diziam o que nós podíamos comprar .
      Em Lisboa talvez a abundância era mais e haviam estes armazéns que vendiam o que sobejava do outro dia sem senhas e assim apareceram os candongueiros – pessoas que compravam para voltarem a vender e assim ganharem bom dinheiro.
      A guerra já tinha acabado mas nós população ainda estávamos a sofrer com a escassez de comestíveis, sabão, óleos, petróleo e tudo mais que precisávamos.
       Até chegar á Ribeira Nova ainda passei por mais dois locais com pessoas em bicha .
Quando cheguei  á Ribeira já lá estavam dois barcos ,enviadas de Sesimbra e Setúbal  com peixe no porão e no convés  atracados á espera de abrir a lota . Estas enviadas eram embarcações pertencentes ás mesmas firmas das traineiras que lançavam a rede e apanhando peixe punham nestas embarcações que partiam para terra enquanto essas traineiras continuavam no mar da pesca e se apanhavam mais, seguiam mais tarde para irem vender o peixe
        Haviam também outros barcos enviadas que eram individuais e percorriam a área da pesca perguntando se as traineiras precisavam dos seus serviços.
        Foi com grande surpresa que vi uma traineira de Peniche vir a atracar e bem na proa da embarcação consegui ver o meu irmão José que nela trabalhava .
Certamente o meu irmão ficou admirado de me ver em Lisboa mas teve também logo a feliz ideia de agarrar numa “  nassa “- um grande camaroeiro com uma entrada em arco de ferro  ou vime de marmeleiro que nós usávamos para   encher os cabazes para se depois acarretar -. E pondo de parte em cima da casa da maquina esperou que os compradores comprassem o peixe para assim finalmente, mo pudesse dar.
          Antigamente em Lisboa os compradores com o barco atracado á barcaça da lota entravam nos barcos com uma grande vara na mão e em jeito de sondagem com essa vara calculavam quantos cabazes de peixe tinham nos porões ou nos ” bailéus  “– compartimentos em que era dividido o convés que era destinados a encher de peixe .-mas depois dos compradores entrarem no barco ninguém podia tirar peixe do convés
O meu irmão passou-me o peixe já com o barco a anda e ali fiquei com uma boa teca de sardinha vivinha quase a  saltar .Logo apareceram varinas e compradores a oferecerem dinheiro e uma varina deu o lance mais alto 120$00 cento e vinte escudos mas quando ela me pagou  eu disse-lhe para ela me dar 110$00.
          Dai a pouco veio outro barco de Peniche que eu costumava trabalhar e um camarada fez-me sinal se eu queria peixe para comer, fiz-lhe sinal com a cabeça que sim e ele tirou meio cesto de sardinha que levei para casa dos meus amigos.
Na volta para casa comprei umas alpergatas e passei pelos armazéns que tinha visto as bichas mas que agora já não havia ninguém á espera, entrei no primeiro e perguntei se ainda havia alguma coisa para comprar  responderam-me que não tinham nada mais naquele dia. Na segunda paragem tive um pouco de sorte e venderam-me quatro barras de sabão azul e branco .Disse que não tinha casa em Lisboa e queria vender duas barras de sabão as outras seriam para  levar para Peniche mas não sabia aonde as vender ..
        Logo um rapaz que estava lá ao fundo do armazém a trabalhar veio ter comigo e disse-me: Olha entra pela porta de serviço de um prédio e sobes para o primeiro andar bates a uma  porta  e com certeza te aparecerá uma criada e tu perguntas se querem comprar as duas barras de sabão.
Assim o fiz e logo a primeira pessoa que me atendeu perguntou--me se eu não tinha mais sabão ou qualquer coisa  para vender .
Acabei por vender as quatro barras.
O rapaz no armazém disse-me para não vender por menos de 15 $ 00 escudos mas eu pedi 20$00 escudos e ela foi falar possivelmente com a Senhora ou a governanta e aceitou dizendo que quando tivesse mais coisas para vender que voltasse que ela certamente comprava algumas coisas.
 Eu tinha comprado por 10$00 e tinha vendido por 20$00 escudos a barra ,tinha sido um bom negocio !!!.
Continua   REGRESSO A PENICHE

Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
28 de Setembro de 2012

domingo, 23 de setembro de 2012

As folhas no meu Destino

                                                      



                                                             As folhas no meu Destino

Continuação
                     Terceiro Capitulo
          
                                                            Mais perto de Lisboa

         Do Turcifal , atravessando  eucaliptais  e pinhais  durante possivelmente mais de uma hora  cheguei novamente  á estrada Nacional 8  ao romper da aurora e digo-vos que foi sempre debaixo de uma tenção forte que quando  junto de mim se levantava uma perdiz , mocho  ou qualquer estridulo , ou piar de uma ave  que eu vibrava de uma maneira muito estranha . e digo mesmo receosa .
        O meu primo António deu-me um cajado na pior hipótese de encontrar  um cão , raposa  ou mesmo um simples texugo  que fugindo de mim talvez me desse a sensação que me quisesse atacar  e se isso sucedesse teria o cajado para me poder defender melhor
Também  nos tropeções que ia dando pelo caminho esventrado o cajado de marmeleiro foi um auxilio que em algumas vezes  evitou que eu me estatelasse no chão e que possivelmente consequências graves me pudessem acontecer .
         O meu primo António  foi peremptório :
Se não saíres desse caminho daqui a pouco mais de uma hora estarás na Nacional 8 e depois é   seguir em frente  ….    E assim foi .
         Sem mais delongas e abandonando os meus pobres  restos dos sapatos  , já sem solas  sendo as  “almas “ - parte interior entre a sola do sapato e a parte superior  que a palmilha  compunha o formato do sapato, eu estava familiarizado com a nomenclatura do sapato ,pois  o meu cunhado e Padrinho fabricava sapatos lindos de ponta a ponta  mas felizmente não trabalhava para fora  e eu já até  punha meias solas as quais ele dava os acabamentos finais –as “ almas” também  já estavam completamente destroçadas vi me obrigado a deita-los fora .
       E assim quase á noitinha cheguei a Lousa  e desviando-me para uns terrenos junto  a estrada ,escolhi o melhor sitio para aliviar as minhas necessidades fisiológicas .
Já quase novamente próximo da estrada , parei e comecei a explorar as condições do terreno aonde eu estava .  Pensei  que  debaixo duma daquelas árvores ,seria um local apropriado para dormitar aquela noite  e descansar os meus fatigados músculos que tanto tinham sido maltratados
 Estava eu nesse reconhecimento do terreno quando vi que ainda um pouco longe uma pessoa avançava para o local aonde eu estava parado. E com a aproximação verifiquei que era um homem alto bem proporcionado o qual ao passar por mim me deu a salvação.
        Aproveitando-me desta sua fraternidade , pedi desculpa e fiz-lhe uma pergunta  :
        Senhor , desculpe me eu  interromper a sua caminhada  mas na sua opinião acha que se eu descansar esta noite debaixo de uma destas árvores , o dono deste terreno levará  a mal ?
        Parecendo-me que olhando –me de alto a baixo com fixação indagou :
Tu queres dormir esta noite aqui no chão ?
 Se não fizesse mal eu não me importava, o tempo está  bom e está calor … .
- De onde és tu  ?
-  Eu sou de Peniche  e vou para Lisboa arranjar trabalho .
 -E vens a pé ?
 - Sim Senhor ,,,,
 - Como te chamas ?
- Manuel Joaquim Leonardo …..
 - Manuel se tu quiseres vais dormir no chão da minha cozinha que é o que te posso oferecer mas assim ficarás dentro de casa  e em cima de um colchão .
        Disse-lhe agradecendo que aceitava e agradecia a sua oferta. e após poucos minutos  já estávamos  dentro de casa .
         Esse Senhor acendeu o seu candeeiro e poisando-o em cima de uma pequena mesa único móvel que ornamentava aquela dependência   , disse-me para eu me sentar na única cadeira que me pareceu existir na casa  e saindo de casa voltou dentro de um ou dois minutos com um mocho – tronco cortado de uma árvore que servia de banco -.
 Levantei-me e disse-lhe que se assentasse na cadeira  que eu me assentaria no mocho , Com voz  forte  ordenou-me para eu ficar sentado .
_ Já jantas -te ?
E seguindo com a conversa disse ,eu já jantei e agora só tenho o lanche para levar para o trabalho mas se quiseres eu posso-te dar uma para ti
Respondi-lhe que já tinha comido também   e aproveitei para tentar manter  conversação com ele e perguntei-lhe  : trabalha fora da aldeia ?
 Eu trabalho , sou soldador no Estaleiro Naval de Lisboa  vou e venho todos os dias para Lisboa 
 -O meu irmão também é soldador numa fabrica de peixe, soldas as latas e afina as maquinas de por tampos quando estas se avariam  e faz quase  tudo na fabrica em Peniche
- Eu sou soldador mas trabalho nos navios grandes ou pequenos mas chama-se  Estaleiro Naval pois faz-se reparações nos navios e fazem-se navios pequenos em ferro .
Que idade tens  Manuel .? Sabes ler e escrever ?
Pouco mais de doze anos  mas sei ler e escrever, tenho a quarta classe com distinção .
Estive em Lisboa desde os meus 5  até aos 12 anos de idade e sempre na escola mas agora a minha irmã e Madrinha faleceu e eu tive que voltar para Peniche
Se tivesses catorze anos talvez te arranjasse.  trabalho pois tu dizes que tens a quarta classe . Olha vou-te dar alguns conselhos pois tu vais tentar trabalhar para Lisboa mas tem cuidado com os patrões que arranjas . Se não te sentires bem com o patrão que tiveres . não saias logo do trabalho sem arranjares outro emprego mas luta sempre pelo teu trabalho e ajuda sempre os outros  se poderes .
 Parece-me que não tens sapatos mas lembra-te que se fores apanhado a andares descalço em Lisboa a policia apanha-te e leva-te para a Mitra
Compra um par de alpergatas amanha  e se quiseres poupar as alpergatas andas só com uma nos pés . quando aquela estiver estragada calcas a outra  e assim a policia não te pode levar preso.  As pessoas que andam a vender nas ruas usam sempre essa estratégia Tem sempre cuidado com a policia pois se cais uma vez eles nunca mais te largam da mão .
E dizendo-o isto fui buscar ao seu quarto um pequeno jornal e começou a ler as suas poucas paginas  a luz do candeeiro,estando nessa leitura talvez uma hora .
Achei engraçado o nome  das folhas ou jornal que chamava-se o Avante
 Finalmente disse-me que tínhamos que ir dormir  mas antes de se ir deitar agarrou numa pequena pá de ferro foi para lareira pôs a papá dentro da lareira com o jornal e incendiou o jornal esperando que todo o jornal ficasse bem em cinzas ,saiu para fora de casa só voltando dai a uns poucos  minutos  sem as cinzas queimadas do Jornal .
Só no outro dia de manhãzinha é que reparei bem na fisionomia de quem me tinha ajudado :
 Um Homem de talvez quarenta anos ,de boa compleição física  ia vestido para o trabalho de calça e camisa de ganga escura e também com um casaco de ganga mais forte também escuro, boné na cabeça     Como recordação deixei-lhe o cajado ,oferta          do meu primo António
Penso que também nunca mais o tornei a ver.
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
23 de Setembro de 2012                           Continua  …..
P.S.
O Avante , Jornal  comunista na clandestinidade a partir de 1941 começou a ser editado quase regularmente todos os meses .
Em 1937 A C.U.F. de Alfredo Silva  ganhou  a concessão  do Estaleiro Naval da Administração Geral do Porto de Lisboa
Fonte : WIKIPÈDIA
P.S. Nunca soube o nome deste SENHOR porque me ensinaram que quando nós damos o nosso nome completo a alguém e essa pessoa não dá logo o seu nome nunca se deve perguntar mais o seu nome .
Este Grande Senhor  habitava num género de bairro á entrada Norte para o sul na vila de Lousa ?
Esse bairro ficava junto á Estrada N- 8 não tem janelas na parte de baixo ao longo do edifício mas sim algumas  janelas na parte do edifício superior parece que a frente desse edifício seria virada para Este e é ao lado esquerdo mesmo quando começa o casario e quando se vinha dessas habita coes para a estrada N-8 tinha-se que descer uma saída com escada

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As folhas no meu Destino

                                     As Folhas no meu Destino 

Capitulo segundo
Continuação
………Logo no dia seguinte depois de ter esta conversa com o meu irmão enchi-me de coragem e disse ao senhor António que era só mais um mês a vender cautelas .
O senhor António disse-me que eu é que resolvia o que eu entendesse  mas ele iria mandar vir mais  jogo para vender e assim na ultima semana repeti ao meu irmão António o que já havia muito tempo eu tinha estipulado.
Serenamente o meu irmão disse-me  :
Se não venderes o jogo e deixares  o Sr. . António enrascado eu vou  ajustar contas
contigo   e como premio terás  um ensaio de pancada que te vais lembrar  enquanto fores vivo ! !!
 O meu irmão António até  aquela  data  nunca me tinha tocado com algum tabefe embora algumas vezes já o tivesse merecido , mas ….
          Meditei toda aquela noite em varias circunstancias de como a minha vida novamente poderia estar pronta para mais uma  mudança  em que derivado alguma rajada de vento poderia fazer cair  as folhas da arvore do  meu Destino .  e levarem-nas para parte incerta ..
         Antes da  barbaria abrir, um pouco antes das 9 horas , já eu esperava pelo Sr. António para fazer contas do jogo vendido da semana anterior  e assim fiquei com pouco mais de quinze escudos  que era referente a percentagem estipulada que ganharia consoante o fruto da minha venda  da lotaria  .
        Apressadamente fui para casa e deixando dez escudos do vencimento do meu trabalho agarrei numa pequena saca na qual tinha os sapatos  e umas peças de roupa que anteriormente tinha escolhida como muito carinho e pondo o saco a tiracolo  , benzi-me e sai de casa
Olhando para o lado em que meu Pai e minha Mãe estavam a trabalhar na fazenda - as minhas irmãs e irmão já estavam na fabrica  havia já algumas horas . com os olhos rasos de lágrimas , quase sem voz a sair da garganta disse-lhes –  perdoai-me meu
Pai e minha Mãe e persignando –me disse - lhes :
Adeus ate um dia  …..
           Como era costume ao passar pela capela  do meu Senhor no Calvário  e de Nossa Senhora da Ajuda  persignei-me  e pedi-lhes a Sua Ajuda nesta aventura que escolhi  e que ainda não sabia onde iria parar ..
Era pouco mais de meio dia , parei junto de uns vendedores de frutas e vegetais , na vila  da Lourinha  e com uns poucos tostões  comprei fruta para todo o dia  e foi ai que contei  os poucos escudos com que me meti ao caminho , fruto das minhas economias que juntava quando acarretava  ou apanhava  nas cavernas o peixe nos barcos em Peniche .
           Em principio já tinha escolhido novamente  Lisboa para começar a trabalhar em qualquer actividade em que principalmente pudesse ganhar dinheiro para as minhas despesas   e sempre pensando que o Sr. Pina e a Senhora  Dona Cristina  que me adoravam como filho seu que não tinham , me dessem dormida nem que fosse no chão em cima das passadeiras da sala de jantar , ate possível emprego de cama e mesa e roupa lavada
Queria pelo caminho ir á povoação de nome  Turcifal onde tinha lá o meu primo António que estava   trabalhando como caseiro , nas propriedades de um abastado agricultor, pernoitar lá e no outro dia bem cedo meter-me ao caminho para Lisboa .
           Já depois da lourinha  fui ultrapassado por outro caminhante que ia em direcção a Torres Vedras  e juntando –me com ele  caminhamos   largas horas juntos
O Senhor que eu tentava acompanhar tinha cerca de 1,60 , 1, 62  m de altura  e sempre com um  passo certinho ,  eu tinha de vez enquanto de dar uma corridinha para eu o poder alcançar  , pois eu ficava sempre para trás .
           Este senhor indicou- me um caminho para encurtar caminho para o Turcifal e eu tomei conta num livrinho de apontamentos  que me restava dos meus tempos de Lisboa  e sem problemas de maior era quase noite quando cheguei ao Turcifal .
Quando contactei com o meu primo António a primeira pergunta que ele me fez  foi se os meus pais sabiam que eu ia a pé a caminho de Lisboa , como devem calcular eu menti-lhe , infelizmente .
          Era época de vindima e assisti a um pormenor interessante.
Esse agricultor tinha diversos armazéns  em que parece que armazenava os vinhos dos seus conterrâneos  para mais tarde venderem . Os apontamentos que fazia era nos próprios cascos que consoante as medidas eram vazadas ficavam   registados com 4 riscos verticais  e um outro risco  que  perpendicularmente  atravessava os quatro e assim indicavam que tinham sido vazadas cinco medidas . Ficava um espaço e depois continuavam com aquelas marcações  feitas com um pau de giz  ate encherem os cascos . Achei estranho e perguntei ao meu primo como aquilo funcionava e ele explicou-me o melhor que pode :. Os cascos alguns tinham o nome do proprietário do vinho , outro eram somente marcas desenho que os seus donos punham pois nem sequer sabiam ler , o meu primo também me disse que o dono da propriedade pouco sabia  mas as contas no final batiam sempre certo , pois ele já ali estava havia mais de seis anos e nunca houve alguma reclamação  !!!. Infelizmente este meu primo também não sabia ler nem escrever
          Por reverencia, talvez  derivado ao meu primo ter assento á mesa de jantar  fui
convidado a comer com eles  e reparei que sentada noutra pequena mesa estava uma garota possivelmente  um ano ou  dois mais nova do que eu que me pareceu que estava  estudando  pois a mesa estava com livros e cadernos escolares .
          O pai chamou-a para a mesa e ela disse-lhe que ainda tinha umas coisas para fazer mas o pai obrigou-a a sentar-se á mesa connosco .
No final do jantar a rapariga foi estudar e eu aproximei-me dela e observei o que ela estava a estudar  e fiquei a saber que tinha passado para a quarta classe nesse ano  mas já estava a estudar nos livros que a professora lhe tinha cedido para ela aprender em quando estava de ferias  e agora ia já entrar por dias novamente , pois as ferias já tinham acabado
         A Ana nome da minha companheira na ocasião  estava  a estudar matemática  e ela disse-me que tinha dificuldade de resolver os problemas .Aproveitei a oportunidade e comecei a ver se ele sabia as tabelas todas de somar, multiplicar , dividir ,diminuir , convenientemente e verifiquei que ela não as sabia dizer correctamente .
 Disse-lhe que ela deveria aprender a tabuada toda convenientemente pois sem saber a tabuada não poderia resolver os seus problemas  e repeti-lhe  diversas vezes que para se ser bom em matemática a chave principal era saber muito bem a tabuada e depois iria ver que saberia e compreenderia  melhor  a difícil disciplina da matemática .
       Perguntei –lhe se ela dava muitos erros gramaticais e ela respondeu-me que dava alguns,expliquei-lhe que deveria principalmente fazer muitas copias do livro da escola  e estudar bem a tabuada e depois veria que tudo lhe seria mais fácil.
       Perguntou- me de onde eu era  e para onde eu ia , disse-lhe que era de Peniche ,terra que ela não conhecia  que ia para Lisboa para arranjar trabalho.
Ana disse-me que não fosse para Lisboa  que ela pediria ao seu pai para me dar trabalho pois eu sabia ler e escrever e o seu pai precisava de alguém para fazer a escrita dos seus negócios ,ele andava a falar nisso , e se eu ficasse que ate lhe ensinava as coisas da escola .
_ eu vou já falar com ele .
Disse-lhe que tivesse calma mas eu ia para Lisboa , disse-lhe que um dia voltaria para os visitar e queria que ela me prometesse que ia estudar muito para que quando eu voltasse saber que ela tinha ficado bem na quarta classe e se pudesse ,  continuar  a estudar que seguisse , pois era muito bom para ela
       Fui-me deitar para o palheiro como estava combinado mas de manha quando estava já a beber café e uma sandes das quais levei umas para a viagem  Ana apareceu e disse-me que estava ali para me agradecer e despedir-se de mim. Agradeci-lhe a sua atenção e  já na rua Ana  pediu-me para eu voltar , e furtivamente deu-me um beijo na cara 
Respondi-lhe que um dia voltaria para ver toda a Família  .
Infelizmente nunca mais voltei .
continua
Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
19 de Setembro de 2012

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

As folhas no meu destino

                                                                   
                                                                        
                                                   As folhas no meu destino
        
          Chegado havia pouco da Cidade os meus dias eram muito monótonos na minha já vila de Peniche . Quase não conhecia alguém  e mesmo  os meus companheiros de brincadeiras eram muitos escassos , pois tendo vivido os meus sete anos anteriores na nossa capital. em Lisboa  ,  visitando por uma única vez  Peniche , a minha  Família e o meu Amigo José Varredor cujas memorias com ele estavam sempre vivas pois ele já me deixava montar e cair do seu burrito , estava perante entre os meus poucos rapazes vizinhos como um ilustre desconhecido .
          E mais desconhecido ficava quando ao domingo me viam passar  calcado ,de calça   e casaco a caminho da Igreja da minha Nossa Senhora da Ajuda aonde tinha sido baptizado na pia benta doze anos atrás e  eles coitados mourejando nas suas fazendas ao redor  miravam-me de olhos baixos quase não tirando os olhos daquilo que estavam a fazer .
         Como infelizmente sabia  que eu era para ficar nesta  minha linda Vila talvez por longos anos ,pensei em cativar amizades ,amigos de Peniche como tantos tinha nessa Lisboa que motivos diversos ,mais uma vez me tinha sido madrasta ., e assim com o pouco peixe que era apanhado nessa  época que era pouco mas de muito valor , eu  acarretando os cabazes ou apanhando o peixe das cavernas  dos barcos  ,consegui juntar dinheiro para comprar um rolo de guita – fio de linho fino mas resistente  - uma folha de papel sedoso  muito bonito que era já nessa altura fabricado com bonitos padrões  e confeccionando  um lindo papagaio consegui chamar a mim a miudagem e os maiores
que em fila me pediam pela sua vez de pegar na ponta  do cordel e sentirem uma satisfação estranha de tentar manter no céu o meu bonito papagaio
        Para minha arrelia e perante a risota dos meus companheiros  na passagem de testemunho  - entregarem ao rapazinho seguinte  o pequeno bocado de cana no qual estava amarrado o fio do papagaio -, atrapalhavam-se e deixavam fugir por entre as mãos  o papagaio que descontrolado ia cair muitas centenas de metros  , no meio das searas de trigo , cevada ou algum pouco milho que se avistavam ao nosso redor
        Todas estas brincadeiras eram ao domingo  para eles , eu como não trabalhava na fazenda de meu pai , porque dizia eu , não gostar , tinha o tempo livre para tentar na Ribeira angariar algo que me pudesse ajudar no  sustento parco da minha Família .

                                                                *      *
   
        Hoje o meu irmão António quando chegou a casa  depois de mais um dia de trabalho na fabrica  , disse -me que tinha uma novidade para me dizer  :
O Sr.  Marreco que vendia a lotaria , jogo da Casa da Sorte  , que o Sr. António da Graça ? Barbeiro de profissão era revendedor em Peniche ,  tinha adoecido  e ele agora estava aflito  pois tinha o jogo todo que tinha mandado vir e não tinha ninguém que o pudesse vender na rua e assim disse ao meu irmão  se eu poderia tentar vender naquela semana .
Fiquei quase aflito  pois não me estava a ver bem a vender jogo de lotaria .
Eu queria era ir trabalhar  para o mar que e eu tanto adorava mas com os meus poucos mais de doze anos ainda tinha muito que esperar pois só podia matricular nos barcos com catorze anos .
        Eu era um rapaz muito incorporado, não gordo para minha idade e todos me diziam que já estava um autentico homem .
Todas as semanas fazia a medição., com um metro de madeira  no barrote mestre da minha habitação e semana a semana verificava quantos centímetros eu crescia  e já tinha  1 ,72 m de altura.!!!.
       Eu vivia numa casa apalaçada na zona rural perto ao Senhor no Calvário , com quatro  divisões  que tendo o barrote mestre como suporte principal  servia de suporte também ás  cordas  que faziam as respectivas divisões dos quatro quartos  em que a casa estava dividida   .
 As divisões estavam divididas entre si com paredes formadas com sacas de serapilheira grossa  embebidas  em cal amassada  a qual dava uma forte rigidez  e apresentavam sempre um aspecto lindo e limpo pois parece-me que sempre de duas em duas semanas eram  caiadas .
        A construção do meu palácio foi   feita com paredes exteriores  de costaneiras –
primeira  peca  dos troncos quando são cortados  paralelamente  e que ficam com vista uniforme  parecendo troncos de arvores  primitivos que no caso também eram as mais baratas .
 Já fora da casa  e aproveitando a parede sul da casa foi construída uma sala aonde tinha    o forno caseiro e fornalha , lareira que também servia para  confeccionar as refeições familiares e aonde se comia
Na traseira do edifício estava a retrete móvel a qual era removida e mudada de lugar depois desta se ter acabado de encher com terra e assim os seus detritos esperavam para  serem  levados  para estrume nas terras da  fazenda .
      Foi muito a contragosto que acedi vender a lotaria da semana mas a medo ainda disse  : Só esta semana ….
Na outra semana lá tinha chegado outra remessa e com a agravante de que  , como eu tinha  vendido as cautela  todas  em três dias chegaram quase o dobro das que tinham vindo anteriormente .
      Desde a primeira vez que entrei numa taverna   numa rua paralela  á parte sul da Igreja de São Pedro e no topo da rua que passa  quando se sobe o Posto da Guarda Republicana para o largo da Fortaleza  o dono dessa taberna ao ver-me entrar com o jogo na mão interpelou-me dizendo para mim :
     Ouve lá rapaz  , não tens vergonha de com tanta saúde estares a vender lotaria? Deixa lá isso para os aleijadinhos e doentes  !!! ….
Como  é natural não disse nada , o cliente ou neste caso o dono da casa tem sempre razão mas se não me encontrava satisfeito com o andar a fazer este favor  ainda mais me tornei  agressivo com o meu irmão que me dizia que era só mais umas semanas mas elas passavam e ninguém vinha ocupar o meu lugar .
Um dia enchi-me de coragem e disse para o meu irmão .
Dou mais um mês e se não houver ninguém para vender o jogo mesmo que o jogo venha eu não o vendo….
Continua
 Manuel Joaquim Leonardo
Peniche Vancouver Canada
Fielamigodepeniche.blogspot.com