Fiel Amigo de Peniche: Coisas que nao esquecem

segunda-feira, 30 de março de 2015

Coisas que nao esquecem

Publicada por Manuel Leonardo à(s) 11:57

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FIEL AMIGO

Não, não sou figura importante nesta grandiosa Cidade que me viu nascer , nunca fiz guerras em que precisasse de Amigos estrangeiros que viessem defender os meus pergaminhos bondosos que bastante são conhecidos e que fazem a inveja de muitos nossos conterrâneos .

Sou filho de pai incógnito e mesmo da minha Mãe poucas recordações consigo reter.

Como nasci bonito e airoso fui logo adoptado por um casal humano que me mimou e criou ate a minha provecta idade de dois anos.

Como já me considerassem um autentico velhote eu que tanto gostava deles trocaram-me por um novo bebé ,desprezando-me sem mais nem menos .

Corriam-me fora de portas assim que eu a tentasse ultrapassar , e ainda o desavergonhado do pequenote corria atrás de mim mordiscando as minhas pernas.

Não me davam de comer e foi com imensa tristeza que tive de procurar nova vida nos caixotes do lixo da vizinhança

Um dia, dormitava eu para fazer mitigar a fome que me consumia quando com um salto e estremunhado ainda, verifiquei que à minha frente alguém tinha posto um prato com uns restos de comer que me pareceu serem para mim.

Delicadamente comecei a comer o suculento jantar e para que a pessoa não tivesse de o lavar lambi-o o melhor que pude.

No outro dia voltei mais ou menos à mesma hora e durante mais dois anos fui alimentado pelo mesmo ser humano que todos os dias satisfazia as minhas necessidades de sobrevivência .

Infelizmente essa bondosa ser humana faleceu e de novo fiquei órfão.

Como entretanto consegui fazer amizades sólidas com a vizinhança pois todos gostam de mim arranjei novos padrinhos que me alimentam e até me arranjaram uma cama mesmo já dentro da antecâmara da sua casa para eu de noite poder pernoitar.

Só que agora faleceu o meu querido Padrinho e tendo eu ido acompanhar o funeral, todos os dias agora vou ao cemitério e estou junto da sua campa durante um tempo à espera que ele me apareça.

Como demora a chegar, bato com a minha pata duas ou três vezes e muito magoado por ele não me responder retiro-me cabisbaixo.

Os empregados do cemitério já estão habituados com as minhas visitas e deixam-me estar o tempo que quero ao pé do meu Padrinho

Os empregados da Câmara quando dão a volta á caça de mim e dos meus semelhantes já me apanharam mas eu consegui fugir e agora já ando com o olho mais aberto Também agora estou um pouco a precisar de limpeza . Até há pouco tempo eu podia tratar da minha higiene

pois tomava banho todos os dias nas aguas do Portinho do Meio , descia na rampa onde antigamente os barquinhos saiam para reparações ou apanharem um pouco de sol mas agora as aguas estão mal cheirosas que não consigo entrar na agua .

Alguém me pôs o nome de Pavarotti que eu , por sinal até gosto ,alcunha que arranjei quando era novo pois como estava sempre a cantar os seres humanos puseram-me esse nome e assim quando me verem na rua e me chamarem irei até vós agradecer abanando o meu rabo.

Ah, agora também me chamam Fiel Amigo de Peniche!

Peniche 30 de Setembro de 2010

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